quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O SORRISO DE LEONORA

Era um homem de 82 anos. Pele marcada pela ação do tempo, olhar calmo e passos inseguros. Sofria dores atrozes da enfermidade pertinente. Andava um tanto nostálgico, mais pensativo que o habitual. Àquela noite lhe reservara uma emoção que lhe traria um sopro de vida intensa. Sonhara que estava em um ambiente marcado por singela harmonia. Beleza simples ao redor. Num canto discreto daquele pomar observou o sorriso luminosos que lhe era tão familiar. Sim, não havia dúvidas ; era o sorriso de Leonora, sua Leonora. Estava diferente, muito diferente de quando a morte a havia levado para longe de seus braços.

Ela estava não mais com a aparência que tinha quando aos trinta e cinco anos o acidente lhe ceifara a existência carnal. Não sabia se chorava ou sorria. Leonora era, agora, uma ponte entre a magia daquele sonho e as recordações de quando ele tambem era um jovem, apaixonado e feliz. Ficara tomado por uma nostalgia diferente. Leonora lhe abria novamente os braços e lhe sorria como naqueles anos mais encantadores. Uma luz que parecia inteligente bailava no ambiente. Falava sem falar. Tudo era intenso naquele lugar onde tempo não existia ou o tempo era, na verdade, um lugar, aquele lugar.

Uma voz lhe dissera, porem, que era de voltar. Ah, não queria deixar o fantástico sonho com sua Leonora. Não queria mesmo voltar para o corpo alquebrado, dolorido, com a doença lhe comeno as entranhas. Estava cansado de sofrer. Não poderia  ficar ali, com sua Leonora? Já não vivera muito na Terra? Sentia-se jovem, robusto, vigoroso, ali, nos braços luminosos de sua Leonora. Masd não, a voz insistia que teria que retornar. Foi aí que a dor da saudade crescera pois a doce voz de sua querida lhe falou, plena de ternura: Falta pouco, meu querido. Breve voce estará aqui, onde a morte não alcança, onde a doença é quimera, onde a velhice não existe...

Como que arrancado do paraíso, despertou no leito amarrotado e lá estava aquele corpo macerado, enfermo. Abriu os olhos em lágrimas, suspirou fundo, tragou a saudade daquele lugar, daquele tempo, de Leonora. E passou o resto dos dias suspirando pelo retorno. Saudade, saudade e mais saudade. Era um homem feito de lembranças, e de uma saudade imensa do amanhã. Era um homem feito de Leonora.

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